segunda-feira, 4 de julho de 2011

Amores impossíveis

Desculpem o trocadilho infame, mas a vida é feita de altos e baixos. Altos, fortes, morenos, sensuais, possíveis e aquele baixinho, meio esquisito, que não sai da sua cabeça. Impressionante como a gente sofre por nada. Um cheiro que mexe com você, um jeito de olhar contido, uma idéia inteligente, várias na verdade. Não, não é nada disso, a gente sofre é pela impossibilidade. Desde que o mundo é mundo não há nada mais afrodisíaco do que a proibição. E se a Julieta tivesse visto o Romeu acordar com mau hálito? E se o Romeu descobrisse o chulé da Julieta? Convivência é foda. Pois é, aquele baixinho esquisito não pertence ao grupo dos amores possíveis, a graça dele pode durar uma eternidade, dependendo do seu grau de estupidez criativa. Ele não quer nada com você, já tem alguém, pertence a um caminho que passa longe do seu, sabe cumé? Pertence ao campo dos idealizados, sonhados e distantes, o que faz dele enorme, lá no pedestal. E nada melhor do que as lacunas da improbabilidade para esquentar uma paixão. Nessas lacunas você tem espaço para criar a história como quiser, ganha poder, inventa. Ele é seu, seu personagem. Nesses espaços livres você coloca todos os seus sonhos, toda a sua imaginação. Cenas completas com fundo musical e palavras certas, finais e desfechos inesperados. Quando você menos espera, ele faz mais parte da sua vida do que você mesma. Mas a realidade aparece mais cedo mais tarde, vem como uma angústia. Parece vontade de fazer xixi, mas é tesão reprimido. Tesão reprimido deve dar câncer. Era só um cara interessante, agora pode te matar. Pronto, você está apaixonada. E a paixão tem suas etapas. Primeiro a negação: eu apaixonada? Imagina. Ele é impossível, nunca vai me dar bola, muito menos duas com o que eu quero no meio. Depois a maximização: ele é mais inteligente, mais bonito, mais engraçado. E todos os mais possíveis para que ele seja mais desafio para você, mais inveja para as suas amigas, se você aparecer com ele na festa, mais fadinhas dançantes para fazer cosquinha no seu ego problemático. Daí é a vez da “superlativização”: em vez de ser mais, ele é “o mais”, o mais fodido, o mais inteligente e o mais gostoso. E você está a um passo do endeusamento: “ele é único”, aí fodeu. Se ele é único, ele é a sua única chance de ser feliz. E, se ele não quer nada com você, você acaba de perder a sua única chance de ser feliz. Bem-vinda à depressão. Como você é ridícula, amor platônico é para adolescentes. Lá fora há milhares de possibilidades de felicidade, de felicidades possíveis. De realidade. E você eternamente trancada na porta que o mundo fechou na sua cara. Fazendo questão de questionar e atentar o inexistente. Vá viver um grande amor. Olha, faça um favor para mim, antes de tremer as pernas pelo inconquistável e apagar as luzes do mundo por um único brilho falso, olhe dentro de você e pergunte: estupidez, masoquismo ou medo de viver de verdade?

Tati Bernardi

domingo, 20 de fevereiro de 2011

A procura


Ando à procura de algo cujo nome ainda não descobri. De início acreditei que fosse carinho, então procurei em vários sorrisos, lábios, abraços, braços e laços. Nada pareceu funcionar como eu esperava, ainda sentia o vazio ecoando dentro de mim.
Noites com as pálpebras grudadas a sobrancelha, debulhada em pensamentos duvidosos. Percebi, por fim, que necessitava de uma vida badalada como as de filmes, onde o telefone não pára de tocar e não têm-se tempo nem para respirar. E assim fiz. Investi em amizades não duradouras, amigos de copo, mesa, banco, bar e festa. Por alguns momentos, confesso, que pude ver pirilampos pelo ar, fadas a bailar. Porém toda noite tem seu fim e quando tornava a amanhecer, eu sabia, que os meus lençóis não estariam mais quentes como na noite anterior. E uma manhã, sempre, seria mais gélida que a outra. Não era o que eu procurava, eu queria mais! Queria uma felicidade impossível de ser descrita, queria beijos que me levassem as nuvens e abraços que me trouxessem de volta sã e salva ao chão. Busquei em cada esquina, revirei em cada gaveta, desdobrei e passei cada roupa que havia sido amarrotada, em cada pedaço do meu ser, usei de tudo que todos tinham a me oferecer e, ainda sim, sentia como se faltasse uma parte de mim. Parte de mim, essa, que parecia ter sido emprestada à alguém para que pudesse colocar-lhe um belo sorriso nos lábios e que, jamais, fora devolvida a dona que vos fala.
Desde então levanto-me todos os dias com nada no estômago, olhos inchados de lágrimas que não caem, fome de sentimentos que não têm nome e ouvidos que reclamam da altura do silêncio. Ponho-me frente ao espelho e tento dia após dia convencer-me que a pessoa a qual o rosto encaro é a única que pode modificar o pesadelo no qual me coloquei. Mas por Deus! Quem estou a enganar? eu sei exatamente onde está a parte de mim que tenho procurado, mas não sei se conseguiria voltar para contar a história sem gravíssimas seqüelas. Pois sei que para reencontrar parte de mim preciso estar com ele e a parte que ainda me resta tem extinto de preservação e não quer atirar-se em um poço sem fundo como em diversas vezes anteriores foi feito, por isso me escondo em baixo de falsos sorrisos e máscaras de maquiagem feitas cautelosamente para que nada possa desmontá-la.
Entretanto, todas as vezes que recosto a cabeça em meu travesseiro, ou sobre o ombro de algum mero substituto, é nele que eu penso. E desejo do fundo da minha alma que se um dia olhar para trás e sentir falta de uma parte que não consiga encontrar nas esquinas, nos bares e festas, assim como eu faço agora, que pense em mim. E perceba que a parte a qual havia feito-lhe falta durante toda a busca, o detalhe que passou desapercebido como um pequeno piscar de olhos, era eu.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Devaneios

Estou observando há duas horas este espaço em branco, tentando organizar em minha mente alguma frase que faça sentido suficiente para ser escrita. As palavras me fogem, o ar se esvai. O sorriso se cristaliza em uma lágrima invisível e minúscula. Tenho apetite de correr milhões de quilômetros e a estagnação de não conseguir realizar, se quer, um mínimo piscar de olhos. Fico encantada me afogando em oceanos de pensamentos enquanto acredito estar boiando em piscinas cristalinas. Sinto a água tomando seu espaço...entrando em meu nariz, passando pela minhas faringe. Não consigo ter nenhuma reação para expeli-la. Aos poucos vai me sufocando de uma maneira agradável e nem hesito em lutar pela minha vida a entrego completamente a ti, me entrego inteiramente a ti.
É assim desde que nos reencontramos a todo tempo sei qual é o lado certo, e até mesmo sei o errado, mas tudo se tona tão atrativo quando estais por perto que eu seria capaz de fazer a coisa errada acreditando ser a certa. Magicamente consegues transformar toda a sensatez e realidade nos mais fantásticos contos de fada e me arrastas sem nenhum pudor e com toda delicadeza que faz sentir como se participasse de uma eterna valsa, a qual eu jamais sonhei poder dançar.
E quando encerro este devaneio percebo, novamente, que estou apenas encarando um espaço, antes em branco, enquanto aguardo ansiosamente o dia de outro encontro no qual eu não saberei distinguir se estou viva, ou se estou desfrutando das maravilhas do paraíso.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Alguém atrás da porta


Por tantas vezes eu dormi aquecida e acordei com o frio. Por tantas vezes eu caminhei com pés descalços à procura de sandálias que coubessem - lhes. Por tantas vezes vaguei pelo vale das sombras a procura de, apenas, um feixe de luz que fizesse - me acreditar que ainda havia esperança e que aquele não era o fim. Por tantas vezes assisti filmes de romance e ao final da maioria deles eu me convencia de que havia alguém, ali, atrás da porta esperando...
Alguém que houvesse passado a noite na chuva e no frio por uma pequena briga de casal, por um ciúme bobo, ou até mesmo por um medo infantil meu. Alguém que provocasse ao ponto de me deixar doente de raiva e em seguida me convencesse com beijos a ficar mais calma. Alguém que me visse acordando de cabelo em pé, sem maquiagem e sem escovar os dentes e, ainda sim, dissesse: você é linda! Alguém que me olhasse enquanto eu estivesse dormindo. Alguém que quisesse gritar ao mundo que eu era dele, única e exclusivamente.
É, agora eu não tenho mais que fingir, porque eu tenho você.

domingo, 26 de setembro de 2010

A ultima carta

Certas coisas são tão difíceis de admitir em formas de palavras audíveis que, as vezes, prefiro escrever, mesmo que em grande parte não as leia. Sabe aquela frase: " A vida é uma caixa de surpresas" ? Pois é, eu devia ter acreditado nela mais cedo, bem mais cedo...

Não sei nem por onde começar e nem onde quero, ou vou chegar. Talvez, só esteja tentando explicar através dessas singelas e concretas letras o sentimento mais abstrato que uma pessoa pode ter. E mesmo sendo tão clichê dizer isso, posso afirmar que não existem palavras no mundo que consigam realizar tal tentativa. Eu poderia fazer citações dos mais famosos poetas, até mesmo poderia usar a complexidade incoerente dos mais sábios cientistas. Poderia compor uma música e fazê-la tocar no seu rádio, e ela teria seu nome. Poderia criar frases de efeito e colocá-las em um outdoor em frente a sua casa. Poderia fazer o impossível para mostrar lhe o quão grande e isano é o meu amor, e tenho certeza que conseguiria. Porém, ao contrário de tudo, não irei fazer nada. Não pense que por falta de coragem, isso não me falta, porque para realizar minhas próximas ações estarei tendo o maior ato de bravura e compreensão que qualquer herói pode ter. Mas quem sou eu para falar de heroísmo, não é? Eu que sempre aguardei as atitudes de um "príncipe".

Sempre acreditei que o destino trataria de arrumar as coisas e deixar lado a lado as pessoas que merecem ficar juntas, porém finalmente percebi que essa era a desculpa que eu dava a mim mesma para não encarar a verdade e fazer as coisas que haveriam de ser feitas.

Levei tanto tempo... precisei fazer perguntas cujas respostas eu não queria ouvir, pois eu sabia quais seriam elas. Precisei passar noites em claro e dias sem luz para chegar a minha conclusão. E bom, quando me contou sobre as novidades... eu não pude evitar a dor. Era maior do que um dia eu poderia pensar em sentir e bem acima do que eu podia suportar.

Sinto muito, fraquejei e sucumbi. Não sou e nunca fui tão forte como um dia imaginei e te fiz acreditar. Meu coração a cada segundo desacelera mais e as lágrimas são inevitáveis. Lembra quando eu disse que estaria aqui pra sempre sentada o esperando? É, eu menti. Minhas forças se esgotaram, e no momento só posso contar com a coragem para dizer: Siga em frente sem olhar para trás, porque ambos sabemos que nosso tempo passou e que nem todo amor que houver nessa vida seria capaz de apagar as feridas que ficaram. Seja feliz por mim, crie a criança que está por vir sem tentar imaginar que um dia poderia ter sido diferente. E sabe a caixa de surpresas? Eu espero que ela tenha guardado alguma coisa boa pra mim e que, sabe, haja um outro "príncipe" dentro dela. De qualquer forma, eu continuo, aqui, esperando como sempre. Só que dessa vez por um fim menos doloroso ao em vez de seu regresso.

Ps: Desculpe o papel molhado. Mas, as lágrimas foram insistentes.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Não importa

Dizem que a esperança é a ultima que morre. Eu discordo. A minha está sepultada há tempos. O amor, sim, esse não morre independente de qualquer atitude, circunstância, razão. Não importa quantos venham depois ou quantos vieram antes nada modifica nada desestabiliza. Não importa a quantidade de noites em claro, ou de sonhos inenarráveis. Não importa quantas lágrimas já foram derramadas, quantas feridas já foram abertas a ponta de faca, não importam as cicatrizes, a dor. Nem mesmo o tempo que já me faz de prisioneira. Nada além importa se for por ti. Tudo passa a fazer sentido quando te sinto presente em mim e nos meus dias.

sábado, 7 de agosto de 2010

Ainda a sua espera


Viver com intensidade sempre foi meu lema, nunca me importei com o tamanho da queda e sim com o tempo que demoraria a chegar ao solo. Esse tempo, de fato, sempre foi mais proveitoso pra mim já que, de alguma maneira, eu sabia que o chão era a única certeza das minhas aventuras. Porém, sempre chega o tempo em que se atirar de cabeça em precipícios sentimentais se torna cansativo e mais doloroso do que de costume.
E esta é a hora mais temida, o coração não se satisfaz mais com paixões passageiras, borboletas momentâneas na barriga, pequenas acelerações cardíacas, amores noturnos e manhãs solitárias. Meu coração pede mais que pequenos sentimentos, necessita de arrepios na pele só por ouvir teu nome, faltas de ar após cada frase sua, lágrimas de emoção por saber que sou correspondida ou até mesmo de tristeza por perceber que não sou.
Tudo que eu preciso é poder sentir, novamente, que estou viva. Já não me basta mais sentir o vento soprar o meu rosto enquanto imagino que seja seu toque, não é mais suficiente ter, somente, a solidão como companhia. Todas as partes em que vou tem um pedaço de ti. Às vezes chego a pensar que o pedaço que encontro nos lugares, na verdade, está em mim e que, talvez, por isso eu jamais tenha conseguido te esquecer como havia lhe prometido.
Sem ti, tenho vivido de memórias, fotografias, músicas tudo que me lembre que um dia eu já me senti completa ao invés de despedaçada. Ocupo meus dias planejando algum jeito de te fazer voltar, mas tudo parece - me em vão. Se eu dissesse que desde que você saiu porta afora não acredito mais em luz ao fim do túnel eu estaria fazendo um eufemismo, de forma que o meu túnel deveria ser chamado de caverna pois está fechado, não há saída do outro lado.
Espero que esta jornada por esta caverna com algumas velas que não duram mais que uma noite e que iluminam menos da metade da escuridão que aqui habita não esteja sendo uma perda de tempo para quem vos é dedicada esta carta. Tenho esperança que os caminhos que tenhas percorrido sejam mais iluminados e mais calorosos que os meus e que esses mesmos caminhos um dia tragam - lhe de volta ao lugar que eu desejava que você nunca tivesse saído. E nós sabemos que eu estarei aqui, ainda a sua espera.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Mãe


Durante a noite, quando eu acordava assustada você sempre esteve lá com aquele sorriso tranqüilizador me dizendo que não havia nenhum monstro em baixo da cama nem dentro do armário. Segurava minha mão, afagava meus cabelos e tornava a falar: “fica calma, a mamãe está aqui”. Ensinou-me a escovar os dentes e a enfrentar de cabeça erguida os obstáculos que a vida tem a me oferecer, a amarrar os sapatos, me ajudou com as lições de casa... É menininhas precisam de coisas como essas.
Hoje você me acalma nas noites em que não consigo dormir com medo do futuro, medo da incerteza do amanhã. E mesmo com o passar dos anos eu sei que depois de contar meus medos virá àquela singela e reconfortante frase “ “fica calma, a mamãe está aqui”. É, Mãe, a senhora está e sempre estará aqui não importa o que aconteça, e eu sei que você sempre será meus olhos quando eu não conseguir enxergar, na escuridão será a minha luz, e na vida será meu exemplo! Porém, Mãe, há sempre um dia em que a borboleta tem que sair do casulo, ela sai sem saber como ela ficou e com dificuldade de voar, mas com as lições que senhora me deu, não me resta dúvidas de que a borboleta saberá como voar.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O pássaro e o gafanhoto

Pela primeira vez em sete anos, eu parei para analisar toda a minha trajetória nessa “história de amor”, ou de dor, que é como eu prefiro descrevê-la neste momento. Estar ao seu lado sempre foi meu grande sonho, e eu jamais mediria esforços para estar com você; Ser a dona do seu sorriso era uma utopia; preferia a morte ao ter que te ver triste, e se eu pudesse fazer algo que lhe pusesse um sorriso nos lábios, eu o faria. Fiz-me de escudo quando precisou, acolhi todo rancor que assolava seu coração, fui bondosa e compreensiva com todos os seus problemas; Acreditava em tudo o que me dizia; Fiz, literalmente, das tripas coração por ti.
E, agora ao olhar para trás, vejo que o único sentimento que eu posso ter é pena de mim. Que me desgastei de todas as formas possíveis e imagináveis. Nunca nada era suficiente ou merecedor de estar ao seu lado. Sentia – me como uma formiga perto de um gafanhoto, uma formiga bem sonhadora, por sinal, que almejava acordada que esse amor fosse possível. E sabe o que é mais constrangedor citar? Ele sempre foi possível, mas nunca foi querido por ti.
Sempre houveram pessoas tentando me mostrar a realidade, mas não há muito o que fazer quando não se quer enxergar. A única coisa que, de fato, me faria perceber era o tempo. E graças a Deus, ele passou. Fazendo – me perceber que eu nunca fui uma formiga. Eu sempre fui um pássaro! Um pássaro que nunca havia aprendido a voar, um pássaro que nunca tinha saído do ninho. E você, sim, era um gafanhoto preso em sua miudeza.
E cá entre nós, o gafanhoto nunca será capaz de acompanhar o vôo de um pássaro. E quando se aprende a voar e os olhos encantam-se com o brilho do sol, é difícil voltar ao solo sem assustar os insetos, pois agora eles sabem que tenho o conhecimento da minha própria força.